segunda-feira, 1 de junho de 2015

Regionalidade: quanto mais, melhor

Cabaceiras, na Paraiba: a riqueza da cultura regional está na paisagem, nos ofícios e tradições do artesanal.
O Design traça destinos e mapeia meus passos. Me desloco, descubro lugares e pessoas que formatam novos horizontes dentro do processo criativo. Na conexão com os laços de pertencimento apuro o olhar sobre o desenvolvimento de produtos e cada projeto ganha contornos que ultrapassam estética e função. Percorro, continuamente, rotas da regionalidade e me deparo com o fazer artesanal que guarda a essência da nossa formação social, de um patrimônio material e imaterial que contrasta com o tempo de inovação e novas tecnologias.

As estradas de barro e o curso dos rios me conduzem a universos particulares, com auras únicas. Transcendo urbanidades para abraçar a simplicidade congelada pelo tempo. Encontro outras arquiteturas, paisagens, realidades, personagens, tons de pele, representações simbólicas, ritos e sotaques. E sons, cheiros, sabores, costumes e matérias-primas do entorno. Penso como todos estes elementos podem ser parte do design que nasce no Estúdio e como cada peça pode armazenar códigos da identidade brasileira resultante da miscigenação. 

Aporto meus desejos nas previsões de Lidewij Edelkoort. A holandesa especializada em antecipar tendências mundiais e fundadora do bureau Trend Union assinala a necessidade de conter a massificação global que nega os regionalismos e sufoca as diferenças espaço-temporais. Estou às voltas com perguntas que me guiam a fazer do design elo de conexão com os laços identitários. Questões que me impulsionam a pensar na criação como porta para desvendar e apresentar os vários mundos que abrigamos dentro do mesmo país, com tradições e ofícios manuais que são ímpares.

Alimento o sonho de um dia tornar a Paraíba – que adotei como território de morada e inspiração - sinônimo de produtos feitos à mão de alta qualidade. Quero me cercar do artesanal e fazer dele linguagem de universos particulares. Atravesso fronteiras para mergulhar na regionalidade e “humanizar os processos”, como sugere Li EdelKoort. Anseio a parceria das comunidades artesãs para crescer junto à elas. Quero um sonho compartilhado. Não vou só.

[English Text]


Regionality: the more, the better

The Design makes destinations and maps my steps. Travel, discovering the places and people that formats new horizons within the creative process. In connection with the bonds of belonging, I sharp my eyes with the glance at product development and each project gets contours that go beyond aesthetics and function. I cross, continually, regional routes and I come across the crafts that guards the essence of our social training, a material and immaterial heritage, which contrasts with a time of innovation and new technologies.

The dirt roads and the course of the rivers leads to private universes, with unique auras. I transcend urbanities to embrace simplicity frozen in time. Find other architectures, landscapes, situations, characters, skin tones, symbolic representations, rites and accents. More, sounds, smells, tastes, customs and raw materials of the surroundings. I think how all these elements can be part of the design that is born in the Studio and how each piece can store codes of Brazilian identity arising from miscegenation.

I put my wishes in Lidewij Edelkoort forecasts. The Dutch woman specialized in anticipating world trends and the founder of Trend Union bureau, points out the needs to contain the global mass that denies the regionalism and smothers the spatial-temporal differences. I am turning around with questions that guide me to make the design, a connecting link with identity bonds. Questions that drive me thinking of creation as to unveil and present the various worlds that shelter in the same country. Traditions and manual crafts are unmatched.

I feed the dream of one day making the Paraíba – which I have adopted as my territory to address and inspiration - a synonym for handmade products of high quality. I want to surround myself with the handmade crafts and make it a private universes language. I cross borders to dive on regionality and "humanize the processes", as suggested by Li EdelKoort. I look forward to the partnership of communities artisans to grow along them. I want a shared dream. I am not going alone.
Barcelos, no Amazonas, é exemplo das porções regionais que integram a identidade brasileira. 
 As comunidades artesãs do Amazonas preservam saberes da regionalidade ligada aos povos da floresta.
O "feito à mão" humaniza o processo de produção e mantém o elo com o ancestral.
As tendências apontam para o artesanal como forma de conter a massificação global.
 "Atravesso fronteiras para mergulhar na regionalidade".