segunda-feira, 31 de outubro de 2016

O futuro feito à mão

Dinalva, artesã de Barcelos, Amazonas: habilidade com a trama da piaçava.
O movimento inverso respira cultura. Se interpõe à produção industrial em larga escala, ao magnetismo do tecnológico. O novo tempo cabe na palma da mão. É o artesanal marcando uma nova escala em objetos únicos, com a etiqueta de exclusividade. O feito à mão exibe a originalidade como marca. Conecta o passado e projeta um futuro com abrigo na ancestralidade. Reaviva saberes e ofícios entrelaçados à formação da história social, às memórias afetivas, ao sentimento de acolhida e pertencimento. Configura a identidade territorial em tempos de uma globalização que apaga fronteiras. 

O futuro tem calor humano e se desenha agora, no presente. Enxergo os vestígios e os persigo certo de que trará bons frutos, que agrupará pessoas, que transformará realidades. Vejo os sinais ao longo dos seis anos da abertura do estúdio. Com os pés na estrada do Design gravei lugares na memória, conheci personagens ímpares. Vivenciei ofícios ancestrais nas comunidades artesãs, vi tramas exuberantes, tessituras perfeitas, entalhes vigorosos em objetos que pertencem à vida cotidiana. Senti o sabor de muitas feiras livres, ouvi burburinho com mistura de sotaques, testemunhei tradições com aura sagrada pelos ritos que as embalam. Pisei universos particulares.

Aos meus olhos, o mapa destas experiências exibe a retomada fortalecida do trabalho artesanal. Abraço as consultorias e projetos nas comunidades artesãs como semeadura da economia criativa, do empreendedorismo, do empoderamento social e da valorização identitária. A extensão do país miscigenado é terra farta para inúmeros brasis que resgatam suas origens e fazem dos ofícios e saberes ancestrais ferramentas transformadoras. No novo tempo que se avizinha o luxo traduz o que é único por carregar uma história de vida, um sentimento, uma herança familiar, uma ideia original. Nesse futuro feito à mão projeto sonhos. É onde quero habitar para fortalecer na fusão do design com o artesanato produtos com alma. Com digitais que despertam emoção.

[ English Text ]

The Future made by hand

The inverse movement breathes culture. In between the large scale industrial production, and magnetic technology. The new time fits on the palm of hand. It is the handmade marking a new scale of unique objects, with a labor of exclusiveness. The handmade shows the originality as brand. Connects the past and projects a future of shelter on the ancestry. Revive knowledges and crafts tangled to formation of social history, to affective memories, to the feeling of welcome end belonging. Configures the territorial identity in times of a globalization that erases borders.

The future has human heat and it draws right now, on the present. I see the I see the traces and I am certain that it will bring good fruits, that will bring people together, that will transform realities. I see the signs of long six years of opening the studio. With the feet on the roads of Design, I recorded places on memory, met great people. Lived ancestral crafts on artisan communities, saw lush wefts, perfect tesserae, vigorous carvings on objects that pertain to everyday life. I tasted many free fairs, I heard rumble with a mixture of accents, I witnessed traditions with aura of sacredness by the rites that cradled them. I stepped particular universes.

To my eyes, the map of these experiences shows the strengthened resumption of craft work. I hug de consultancy and projects at artisan community as seeds of creative economy, of entrepreneurship, of social empowerment and identity valorization. The extension of the mixed country is rich land of countless Brazils who rescue their origins and make the ancestral trades and knowledge the transforming tools. In the new time that neighbors the lust, translate that it is unique for carrying a life story, a feeling, a family heritage, an original idea. On this future made by hand, I project dreams. It is where I want to inhabit, on the fusion of design with the hand craft, products with soul. With digital that creates emotion.
Dona Rosa, artesã Tikuna de Porto Cordeirinho, Amazonas: respeito ao sagrado da floresta. 
No Amazonas a cestaria de José Garcia carrega heranças de seus ancestrais.
Em Manaus, Ema é uma das líderes da Amarn, associação que preserva as tradições indígenas.
Sérgio Matos: "O feito à mão projeta um futuro com abrigo na ancestralidade".
Poltrona Acaú: design com digitais das marisqueiras da Praia de Acaú, no litoral paraibano.


quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Cadeira Buriti: da árvore da vida brota design


O vaivém hipnótico das linhas seduz o olhar. Traça o porte majestoso da Cadeira Buriti, com inspiração enraizada na flora brasileira e na cultura dos povos indígenas e ribeirinhos. O desenho celebra o buritizeiro, imponente palmeira da Amazônia que batiza a peça de mobiliário e enaltece os mitos, os laços de pertencimento, as múltiplas dádivas da chamada “Árvore da Vida”. 

A estética brota na lenda dos índios Tapuia que credita sua origem a um presente de Tupã, entidade sagrada simbolizada pelo trovão. O conto tribal propagado entre gerações narra o desabrochar das folhas verde esmeralda, onde as de localização central formam uma coroa para adornar e proteger a floresta. Nos leitos dos rios e igarapés a palmeira alcança mais de trinta metros de altitude e pode ser vista à distância, reclamando reverência e respeito.

A carga simbólica – somada às nervuras na casca do fruto escarlate – configura o traçado da estrutura elaborada com riqueza de detalhes. O movimento curvilíneo do aço exibe perenidade. O metal envolto pela amarração de corda naval estabelece harmonia na forma ora enérgica, ora sutil. Encosto e assento coroam a poesia do trabalho artesanal; o fio da ancestralidade presente na crença que conecta céu, terra, deus e homens. Sob a criação revestida de contemporaneidade reside o código frondoso da copa do buritizeiro que abriga função, estética e memória. Na simplicidade, o design de alma brasileira cultua nobreza e repousa à sombra de uma palmeira. 


[ English Text ]

Buriti Chair

The hypnotic lines shuttle seduces the look. It traces the majestic size of the Buriti Chair, with inspiration rooted in the Brazilian flora and the culture of the indigenous and riverside peoples. The design celebrates the buriti tree, imposing palm tree of the Amazon that baptizes the piece of furniture and exalts the myths, the bonds of belonging, the multiple gifts of the call “Tree of Life”. 

The aesthetics springs from the legend of the Tapuia Indians who its origin comes of a gift from Tupã, a sacred entity symbolized by thunder. The tribal tales between generations narrates the blossoming of the emerald green leaves, where the central located leaves form a crown to adorn and protect the forest. In the beds of rivers and streams the palm tree reaches more than thirty meters of altitude and can be seen from a distance, demanding respect and reverence.

The symbolic burden – added by the scratches of the fruit red shell – configures the trace of an elaborated structure with a richness of details. The curve movement of the steel shows perenniality. The metal wrapped by the mooring of naval rope establishes harmony in the sometimes energetic, other times subtle form. The backrest and the seat crowns the poetry of artisanal work; The thread of ancestry present in the belief that connects heaven, earth, god and men. Underneath the contemporaneous creation, lies the leafy forms of buriti tree that houses function, aesthetics and memory. In simplicity, the design of Brazilian soul worships culture and rests under the shadow of a palm tree.
Fruto do buritizeiro (Foto: reprodução)
Palmeira Buriti: imponência na Floresta Amazônica e Cerrado brasileiro (Foto: reprodução)

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Vida longa à regionalidade, às tradições

Em Campina Grande (PB), o Parque do Povo é cenário do Maior São João do Mundo.

A regionalidade está no ar. Porque Junho tem um quê de magia que faz o Nordeste transbordar em referências da cultura ancestral. É o mês da natividade desta porção de terra brasileira que adotei como morada e onde as simbologias afloram para recordar o fio da meada com as origens. Tempo de colheita da terra e da alma. De celebração e reencontros ungidos pelo fogo, fé, ritos, mesa farta. Cores, músicas, danças, risos extravagantes e orações silenciosas estão no mesmo caldeirão das tradições. A fervura é a da miscigenação, da pluralidade dos povos, dos tons de pele, dos sotaques, dos costumes, do religioso e profano.

Difícil de explicar como as festividades aguçam os cinco sentidos. Invadem corpo e coração no misto dos cheiros, sabores, sensações e estampidos.  A tríade dos santos católicos  - Antônio, João e Pedro - toma assento no mesmo espaço dos cultos pagãos em agradecimento à colheita, à fertilidade da mãe Terra, ao alimento. Tudo é sagrado. Das bandeirolas e balões coloridos que se agitam ao vento às fogueiras que conectam terra e céu através da fumaça que incendeia o ambiente. Do banquete onde o milho é protagonista ao xote, forró, xaxado e baião que exorcizam tristeza no compasso da zabumba e gemido da sanfona. Os altares das igrejas e os palcos em praça pública dividem reverências.  

Testemunhar essa explosão cultural na cidade de Campina Grande, na Paraíba, é um privilégio. Converto em aprendizado inesgotável porque a cada ano tudo ressurge em novas perpectivas, como um caleidoscópio. Faço uma imersão nos detalhes, nos códigos, nas entrelinhas e tramas que revestem festa tão grandiosa. Respiro a identidade territorial onde habita e pulsa inspiração para o design. A Poltrona Balão, a Cadeira Chita, a Poltrona Balaio e o Balanço Bodocongó são crias dessa cultura fumegante. Oxalá ela não pare de arder e meu olhar não perca o brilho, a centelha da criação.

[ English Text ]

Long Live to regionality, to traditions

Regionality is in the air. Because June has a trace of magic that made Northeast overflow in references of ancestral culture. It is the month of nativeness of this portion of Brazilian land I adopted with origins. Time of harvest of the land and soul. Of celebration and meeting by the fire pit, faith, rites, dinner table full. Colors, music, dances, extravagant loughs and silent prayers are in the same cauldron of traditions. It boils miscegenation, plurality oh people, of skin tones, of accents, of religious and profane.

It is hard to explain how festivities sharpen the five senses. Invades body and heart, in the mix of smells, flavors, feelings and noises. The triad of Catholic saints – Anthony, John and Peter – takes seat at the same spot of pagan rituals to thank the harvest, the fertility of Mother Earth, for the food. Everything is sacred. Of flags and colorful balloons that are shaken by the wind, the fire pits that connects earth and heaven through the smoke burning the ambient. Of the banquet, which corn is the protagonist to ‘Xote’, ‘forró’, ‘xaxado’ and ‘baião’ that exorcises sadness in pace of zabumba e moaning of the accordion. Those church altars and open square stages divide obeisances.

Testify to this cultural explosion in  Campina Grande city, at Paraíba, is a privilege. I convert in unstoppable learning because in each year everything rises in a new perspective, like a kaleidoscope. I emerge in details, in codes, between the lines and plots that cover such a great party. I breath territorial identity where inhabits and pulses inspiration to design. The Balão Armchair, the Chita Chair, the Balaio Armchair and Bodocongó Swing are creations of this smoking culture. I hope is does not stop burning and my look doesn’t lose shine, the spark of creation.







terça-feira, 24 de maio de 2016

Traçado de Gratidão

"O traço do design abriga um aprendizado perene e não canso de ser grato"
A palavra gratidão é meu traço. Firme e enérgico para esboçar quanto o design está entrelaçado ao que sou agora. A profissão escolhida embala um presente valoroso: o patrimônio cultural de um Brasil que não se esgota em seu território de milhões de metros quadrados. Presente tangível que alimenta os sentidos e indescritível nas emoções e sentimentos que afloram perante as tradições arraigadas na mestiçagem. Surpresas inesgotáveis nas andanças que descortinam lugares, histórias, paisagens e personagens nunca antes imaginados. 

Na rota da criação, as descobertas se avolumam em experiências que são espelhos. Refletem meus muitos eus. Mato-grossense de nascimento sou de cada pedaço deste País. O solo que piso é minha identidade, minha casa de portas abertas, meu horizonte e remanso. Ora paraibano, amazonense, paulista. Outras vezes catarinense, pernambucano, paraense, carioca... Sou Norte e Sul, de corpo e alma.  E destas origens e pertencimentos nutro o desenvolvimento de produtos, abasteço o novelo criativo com linhas colhidas das múltiplas identidades locais. Tudo é convertido em memória e alimenta um banco de dados que é mais que fotografia digital capturada em tela touch. Os cliques não acompanham o ritmo disparado do coração diante das comunidades artesãs, das florestas sagradas, da imensidão dos rios, das praias de areias intocadas, da arquitetura eclética que sussurra a mistura dos povos. 

O patrimônio imaterial e todo o arcabouço de simbologias nele contido não estão nos pixels das imagens que documentam meus passos pelos muitos brasis. É como um flash, uma aura que conecta sensações e remonta ao momento vivenciado. Estende uma ponte para riquezas encontradas na simplicidade das pessoas, nos seus ofícios, dentro de abraços fraternos, no brilho dos olhos, nos sorrisos cativantes, na recepção calorosa, nos cantos ancestrais de boas-vindas, nas mãos elevadas que emanam energias positivas e distribuem bênçãos. O traço do design abriga um aprendizado perene e não canso de ser grato.

[ English Text ]


Trace of gratitude

The word gratitude is my trace. Firm and energetic to say how much design is tangled by who I am today. The chosen profession packs a precious gift: the cultural heritage of a Brazil that does not run out it’s territory of millions of square meters. Tangible gift which feeds the senses and indescribable emotions flowers by the traditions rooted on miscegenation. Inexhaustible feelings from the walkings that reveals places, histories, landscapes and characters never once imagined.

On the route of creation, the discoveries swells in experiences like mirrors. Reflex myself. Mato Grosso born, I am a piece of every part of this country. The soil I step on is my identity, my home of open doors, my horizon. Part time from Paraíba, from Amazon, from São Paulo. Other times I’m from Santa Catarina, Pernambuco, Pará or Rio de Janeiro. I am from North and South, of body and soul. And these origins and neutral belonging, I nourish the products developments, fill the creative story with harvested lines from multiple local identities. Everything is converted in memories, feeding the photo stock, that are more than digital photographs captured by a touch screen. The clicks doesn’t accompany the rhythm of my heart, before the artisan communities, of sacred forests, huge rivers, of untouched beaches and sands, of eclectic architecture that whispers the peoples miscegenation.

The immaterial patrimony and all the framework of symbologies contained in it, aren’t at the pixels of images that documents my steps through the many Brazil. Is like a flash, an aura connecting feelings and builds the lived moment. Makes a bridge to worthiness found in the simplicity of the people, in their work, between fraternal arms, in the brightness in the eyes, big smiles, in the warm welcome, in the high hands sending good energy and blessing. The trace of design gives me perennial learning, and I am not tired to be thankful.
Benjamin Constant, Amazonas: recorte de um Brasil imerso na cultura mestiça.
O curso do Rio Negro conduz ao mergulho nos saberes e ofícios artesanais. 
Curumins do Amazonas: a infância tem seu tempo e tradições.
Dona Rosa, artesã da etnia Tikuna, em Porto Cordeirinho, no Amazonas: generosidade em cada gesto.
Cariri Paraibano: o céu azul e o solo árido emolduram inspiração.  

terça-feira, 19 de abril de 2016

Design na rota da cultura


Pé na estrada é a marca do Estúdio Sérgio J. Matos para nutrir o design com identidade.

O traço segue os vestígios da cultura. Envereda pela regionalidade e celebra as manifestações populares no chão de terra batida. Transita entre estandartes e bandeirolas coloridas que se agitam ao vento anunciando ritos e tradições que narram a formação social brasileira. O desenho esbarra na estética que transborda identidade, onde a miscigenação expõe a mistura de raças e costumes que só a brasilidade contém. Esboça formas elaboradas no fazer artesanal que exaltam a exclusividade gerada no calor das mãos.

Essa é a rota do design adotada pelo Studio Sérgio J. Matos. Desde que abrimos as portas à criação – em novembro de 2010 – colocamos os pés na estrada para viver experiências de um Brasil multicultural que tem muito mais a revelar além dos livros e dos cartões postais. Lançamos o olhar para o entorno - que de tão próximo torna-se invisível – e para horizontes longínquos incrustrados entre lendas e tradições de sua gente. Acumulamos assim um punhado de memórias. São paisagens, rastros da fauna, cores e texturas da flora, festas de rua, burburinhos, geografias habitadas por personagens empenhados em manter vivos os saberes e ofícios herdados dos antepassados. Artesãos de habilidades ímpares.

Todos estes elementos e referências constituem nossa bagagem. Fazem parte de um arquivo que inspira o desenvolvimento de produtos com densidade simbólica e assinatura do feito à mão. Cada poltrona, mesa, cadeira, banco, luminária, fruteira e vaso que integra nosso catálogo traduz a carga identitária da brasilidade descoberta em um momento de emoção e encantamento. Objetos que carregam laços de pertencimento, extratos regionais e conexões do passado com o presente. Design com valor patrimonial. 

[ English Text ]


Design at the Culture route
The line follows the traces of culture. Leans towards regionality and celebrates the popular demonstrations in the dirt floor. It goes between colored banners and pennants that flutter in the wind announcing the­ rites and traditions that narrate the Brazilian social formation. Design touches on the aesthetic overflowing identity, where miscegenation exposes the mixture of races and customs that contains only Brazilianness. Outlines ways to elaborate on handmade extolling the uniqueness generated in the heat of the hands.
This is the route adopted by Sergio J. Matos Studio. Since we opened the door for creation - in November of 2010 - we put our feet on the road, to live experiences of a multicultural Brazil, which has much to prove beyond books and postcards. We launched a look at the surroundings - that if so close, it becomes invisible - and far horizons encrusted between legends and traditions of its people. This way, we accumulated a handful of memories. There are landscapes, wildlife trails, colors and textures of the flora, street parties, rumbles, geographies inhabited by characters committed to keeping alive the knowledge and inherited crafts ancestors. Craftsmen with unique skills.

All these elements and references are our experience. They are part of a file that inspires the development of products with symbolic density and handmade signature. Every chair, table, bench, lamp, fruit bowl and vase, included in our catalog reflects the identity load of Brazilianness discovered in a moment of excitement and enchantment.
Poltrona Acaú: a inspiração vem do mar, dos corais da Praia de Acaú, no litoral paraibano.
O floral da chita dá forma à Luminária Moringa.
A trama artesanal da Poltrona Caçuá celebra tradições, remete à regionalidade.
Banco Afoxê: design que ressoa a festejos de rua e ritos de fé.
A Cadeira Chita guarda memórias dos festejos forrados com o tecido popular.
Colheres de pau são a matéria-prima do Balanço Bodocongó.
A atmosfera dos festejos juninos abriga a criação da Poltrona Balão.
Banco Xique-xique:a natureza árida é terreno fértil para o design que traduz regionalidade. 
O inseto de porte elegante - presente nos tabuleiros do Nordeste - inspira design.

terça-feira, 12 de abril de 2016

O rastro de brasilidade da Cobra Coral

A explosão das cores, o gingado dos fios, a estética hipnótica, a riqueza dos detalhes que ondulam entre mitos e a força da trama artesanal. É o rastro da Cadeira Cobra Coral que figura no ambiente da sétima edição do Brazil S/A, em Milão, Itália. Sob o tema “Brasilidade para Todos”, a feira é expoente do design nacional e acontece paralelamente ao Salão Internacional do Móvel de Milão. Até o dia 17 de abril, a simbólica Universitá degli Studi di Milano vai emprestar sua arquitetura e atmosfera de tradição ao evento.
Sim! A brasilidade ancora em Milão, numa área de 600 metros quadrados e aos olhos ávidos da imprensa internacional especializada e dos milhares de visitantes que descobrem nossa criação. No caldeirão da miscigenação a fervura é da estética multicultural e transborda em objetos de mobiliário e decoração que unem o artesanato à alta tecnologia, os saberes ancestrais à contemporaneidade. É a conexão de passado e presente revestida de inovação e celebração à originalidade. Design com a identidade de muitos brasis pela singularidade regional, pelas marcas que são próprias dos designers por trás de cada peça. Os trabalhos exibem histórias, laços, memórias e narram a trajetória de uma excelência alcançada nas minúcias até converter-se em assinatura.
O Estúdio Sérgio Matos sente-se honrado em fazer parte do Brazil S/A, de uma seleção tão criteriosa que objetiva projetar o nome do design nacional aos quatro cantos. Estamos à vontade, acolhidos pela temática da brasilidade que pauta nosso percurso e alimenta – através da cultura - a criação. A cadeira Cobra Coral está inserida neste contexto. É provocativa no balé sinuoso dos fios, na leveza do aço que se dobra ao movimento e poesia, na carga simbólica que evoca lendas e ritos dos povos da floresta. O feito à mão traduz calor, como o da serpente. Exibe vestígios de uma estética considerada exótica e ousada. Bem brasileira.

[ English Text ]

The Brazillianess trail of Coral Cobra

The color explosion, the wiggling, the hypnotic aesthetics, the richness of details that waves between myths and the power of handmade weaving. It is the trail of Coral Cobra Chair figures in the environment of the 7th edition of Brasil S/A, at Milan, Italy. Under the theme of “Brasillianess to everyone”, the fair exposes national design and happens parallel to International Saloon of Furniture of Milan. Until 17th April, the symbolic Universitá degli Studi di Milano lends its architecture and atmosphere to tradition to the event.

Yes! The brazillianesse anchors at Milan, in an area of 600 meters’ squares and to the greedy eyes of the international press, and of thousands of visitors who finds our creation. In the cauldron of miscegenation to boil, is the multicultural aesthetics and overflows in furniture and decoration objects which unites handcraft and technology, to ancestral knowledge to contemporaneity. It is the connection of past and present coated with innovation and celebrates originality. Design with the identity of many Brazils by regional singularity, by marks of the designers behind each piece. The works exhibits histories, bonds, memories and tells the trajectory of an excellence achieved with the minutiae until it becomes a signature.

The Sérgio Matos Studio fells honored to be part of Brazil S/A, of a criterions selection that it aims to project the name of the national design everywhere. We are comfortable, welcomed by the Brazillianess theme, setting our route and feeds – trough the culture – to creation. The Coral Cobra Chair is inserted in this context. It is provocative with sinuous ballet that evokes legends and rites of forest people. The handmade translates the heat, as like the serpent. Exhibits trace elements of an aesthetics considered exotic and bold. So Brazillian.

A trama artesanal reveste o aço que ondula em movimentos sutis.
A arquitetura tradicional da "Universitá degli Studi di Milano" abriga o Brazil S/A

quarta-feira, 30 de março de 2016

Anatomia de um Brasil Original


No curso do design, entre as idas e vindas ao Amazonas, passo agora a me dar conta da anatomia que reveste o Projeto Brasil Original. Percebo que a iniciativa do Sebrae-AM que funde design e artesanato com a consultoria do Estúdio Sergio J. Matos é feita de corpos, corações, peles, músculos, sorrisos abertos e olhos cativantes. Envolve mais que mãos na arte de transformar a matéria-prima colhida do entorno em objetos que narram identidade.

Na originalidade deste território onde reina uma maioria de artesãs indígenas e ribeirinhas, curumins cercam mães numa natural e descompromissada imersão de saberes e ofícios. Logo, a cultura ancestral – como num passe de mágica - chegará às pontas dos dedos miúdos para difundir a herança dos antepassados. Até lá, são crianças e deixam que pés ligeiros as levem pelos leitos dos rios e caminhos da floresta. Com cabelos ao vento e peles douradas ao sol, vestem fantasias imaginárias e assumem papéis que invocam mitos da natureza sagrada. As gargalhadas livres desenham bocas de canto a canto da face, enquanto os olhos acendem chispas de uma verdadeira felicidade.

A anatomia deste Brasil Original exibe força. Ela vem do coração. O vigor está expresso no semblante de cada artesã, na contração do rosto que sinaliza concentração, na respiração serena. Também se espalha na habilidade de comandar pés e mãos no perfeito balé de fios que se entrelaçam, enquanto a voz suave não perde o tom de carinho com as crias que descansam no colo. Eretas ou não - na posição que melhor acomoda a criação - são mulheres multifacetadas donas de uma flexibilidade invejável para a lida da agricultura, do artesanato e da família. Creem que tudo está ao alcance das mãos. Basta querer. 


[English Text] 

Anatomy of an Original Brazil

In design course, between the comings and goings to Amazon, I am now, realizing the anatomy that coats the Original Brazil Project. I realize the initiative of Sebrae-AM merges design and crafts with the consultancy of Sergio J. Matos Studio is made of bodies, hearts, skins, muscles, open smiles and captivating eyes. Involves more than hands in the art of transforming the raw material, harvested from the surrounding areas in objects that narrate identity.

The originality of this territory where a majority of indigenous riverside craftswomen and kids, that surrounds mothers in a natural and uncompromising immersion of knowledge and crafts. Soon, the ancestral culture - like a magic trick - will end at their fingertips children, to spread the legacy of their ancestors. Until then, they are kids and let the quick feet take by riverbeds and forest paths. With hair blowing in the wind and Golden skins of the Sun, wear costumes and imaginary roles that invoke sacred myths. The free laughs, draws moths from corner to corner of their faces, while their eyes ignites sparks of genuine happiness.

The Anatomy of this Original Brazil shows strength. It comes from the heart. This force is expressed in the countenance of every artisan, contraction of the face that signals concentration, breathing alive. Also spreads on the ability to lead hands and feet in perfect Ballet of wires that are interwoven, while the soft voice does not lose the tone of affection with their creations resting on their laps. Upright or not - in the position that best accommodates the creation - are multi-faceted women, owners of enviable flexibility, to deal with agriculture, crafts and family. They believe that everything is within the reach of hands. Just want it to.  
Fusão de corpo, mente e coração na arte do feito à mão.
Imersão na cultura ancestral: alimento para as gerações futuras. 
Curumins: pés ligeiros e gargalhadas livres. 

quarta-feira, 9 de março de 2016

O design sinuoso e provocante da Cobra Coral


Cadeira Cobra Coral: o mobiliário pode ser provocativo e ousado. (Foto: Marcos Cimardi)
O exotismo ondula em contornos e cores. É a marca da cadeira Cobra Coral que toma assento no design ousado e provocativo. A estrutura de aço inoxidável curva-se ao efeito hipnótico do revestimento executado com corda naval nos tons da serpente. O coral, preto e branco alternam-se num balé sinuoso e deixa transparecer o cuidado de mãos habilidosas por trás do cingir artesanal.

No encosto da peça o entrelaçamento enfatiza leveza e movimento. Exalta a beleza da cobra coral que habita todo o território brasileiro, encerra mitos da floresta e serpenteia poesia na música homônima de Caetano Veloso: “Para de ondular, agora, cobra coral/ A fim de que eu copie as cores com que te adornas/ A fim de que eu faça um colar para dar à minha amada/ A fim de que tua beleza, teu langor, tua elegância/ Reinem sobre as cobras não corais”.

A peça de mobiliário guarda o posto de primeira cadeira no portfólio do Estúdio desde sua abertura, há cinco anos. Lançada durante a Paralela Móvel, a estrutura simples contrasta com o porte imponente dos sofás e poltronas e mantém em comum a assinatura têxtil da amarração feita à mão. A força das cores e toda carga simbólica e mítica que reveste as serpentes a torna instigante e orgânica. Deixa um rastro de vivacidade. 

[English Text] 


The sinuous design of Coral Snake

The exoticism curls to outlines and colors. Is the mark of the Coral snake Chair, which takes a seat on the daring and provocative design. The stainless steel structure bends to the hypnotic effect of the coating with naval rope in shades of the serpent. Coral, black and white alternate in a sinuous Ballet, suggesting a careful, skilled hand behind the stick.

In the back of the piece, the interlacing emphasizes lightness and movement. Exalts the beauty of coral snake that inhabits the entire Brazilian territory, closed forest myths and weaves poetry into music by Caetano Veloso: "Stop curls coral snake/ Now that I copy the colors you adenosine/ So that I make a necklace to give to my beloved/ So that your beauty your laziness, your elegance/ Reign on the coral snakes".

The piece holds the position of the first Chair in the Studio's portfolio since its opening five years ago. Launched during the Mobile Parallel, simple structure contrasts with the imposing of sofas and armchairs and maintains in common, textile signature of mooring. The power of colors and all symbolic and mythical of snakes makes them provoking and organic. Leaves a trail of liveliness.  
Lançamento da Cobra Coral no MuBE , durante a Paralela Móvel.  (Foto: Marcos Cimardi)
Na serralheria, o aço se dobra ao desenho sinuoso. (Foto e arte: Rennan Oliveira)
Inspiração: as cores da cobra coral são reproduzidas na amarração com corda naval. (Foto: Reprodução) 


    

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

De volta à originalidade


A fusão do design com o artesanato – essência do Projeto Brasil Original - me traz de volta ao estado do Amazonas. É como retornar à casa. Encontro amigos, braços abertos, afagos e sorrisos largos. Volto para a alegria espontânea dos indígenas e ribeirinhos, para a simplicidade pautada em riquezas que não cabem na (des)ordem da selva de concreto. Volto para respirar outros valores e a atmosfera pulsante da floresta. Me deixo oxigenar pelo verde de matizes infinitas e absorvo a energia indescritível que dela emana. Cada cor, som, sopro, reflexo, cheiro e mistério guardo como tesouros etiquetados na memória. Quero revisitá-los inúmeras vezes, sem correria, sempre que a inspiração pedir e a saudade exigir a sensação de liberdade e prazer.

Volto para onde a vida transborda em sentimentos que afloram o sentido do meu fazer profissional. A natureza múltipla em formas, cores e texturas; os saberes ancestrais revestidos de mitos e simbologias; a humanização do processo criativo que arquiteta sonhos. Não venho ensinar. Como consultor do projeto - através do Sebrae Amazonas - sou parte de um escambo onde a cultura é moeda de troca. É verdadeira, olho no olho, guiada por narrativas que ancoram valor patrimonial. Nas fibras naturais que se desdobram em objetos - no habilidoso balé do entrelaçamento artesanal - há elos de pertencimento e continuidade. Vestígios dos povos indígenas das etnias Kanamary, Marubo e Tikuna que lançaram nas cidades de Tabatinga, Atalaia do Norte e Benjamin Constant a semente do Brasil Original. Um território de descobertas inesgotáveis que não canso de aportar, de voltar num misto de ânsia e serenidade.

[English Text]


Back to Originality

The fusion of design with crafts-essence of Original Brazil Projec – brings me back to the Amazon. It is like comming back home. Met friends with opened arms, and large smiles. I back to the spontaneous joy of indigenous and riverside peoples, for the simplicity guided in richness that does not fit on the (dis)order of the concrete jungle. I back to breathe other values and the pulsing atmosphere of the forest. Leave me respire the infinity green tints and absorb that indescribable energy. Each color, sound, breath, reflex, smell and mystery I keep like treasures, saved in memory. I want to visit them repeatedly, with no rush, whenever inspiration asks me that feeling of freedom and pleasure.

I come back where the life overflows feelings that outcrops the sense of my professional duty. The nature multiplies in forms, colors and textures; the ancestral knowledge coated with myths and symbols; the humanization of the creative process, that build dreams. I am not here to teach. As the project consultant – through Sebrae Amazonas – I am a part of the barter where culture is the exchange coin. It is true, eye to eye, driven by narratives that provide equity value. In natural fibers that unfold into objects - in skilled craft - interlacing ballet there are ties of belonging and continuity. Traces of indigenous ethnicities, Marubo Tikuna and Kanamary that seeded in Tabatinga, Atalaia do Norte and Benjamin Constant Brazil Original seed. A land of endless discoveries you don't tire of the dock, back in a mixture of eagerness and serenity.
A floresta pulsa em vitalidade e fornece matéria-prima e inspiração.

O verde da maior floresta do mundo abriga outros tons. 
O Projeto Brasil Original configura troca de experiências e conhecimentos.
A fusão do design com o artesanato arquiteta sonhos de gente de fibra.